sábado, 4 de outubro de 2008

Técnica Vocal - Texto de estudo para "Eloqüência"

A oratória compreende: discursos, sermões, panegíricos, orações fúnebres, discursos políticos, judiciários, etc...

É um gênero que exige boa voz, ótima dicção, e dramaticidade de expressão. Como normas gerais aconselha-se a falar lentamente no início, separando as orações por longas pausas, voz suave, a fim de despertar a atenção do auditório no exórdio, que é a apresentação do orador.

No corpo do discurso fazer oposições de intensidade, altura e colorido da voz que deverá crescer relativamente para alcançar toda a sua pujança no final.

A oratória se apóia na força da voz, na ênfase das inflexões, no recurso da mímica e do gesto, para que o orador possa conseguir uma comunicação direta com o auditório provocando as suas reações e exercendo o prestígio da sua personalidade.

Eloqüência é uma palavra que perdeu o seu sentido original. Muitos falam dela de modo pejorativo. Há, porém, boas razões para vê-la dentro de um contexto mais amplo, em que se privilegiam o convencimento e a persuasão daqueles que falam em público. Isto porque, todo o orador, quando fala, quer ser ouvido. Caso contrário, para que falar em público?

Na antiguidade clássica grega a palavra falada era muito exaltada. Os gestos, as posturas, a teatralização e as demais formas de se expressar nada mais eram do que modos diferentes de atrair o público. Naquela época havia um grande prazer em assistir a uma peça oratória, porque esta era a única forma de transmitir conhecimentos. Os livros e a gama enorme dos meios de comunicação de massa que temos nos dias que correm principalmente os recursos da Internet, eram inexistentes.

Deleitar o espírito dos ouvintes era o principal fim de todas as orações. Nesse mister, há o exemplo de Demóstenes, o imortal ateniense, muito citado nos livros e cursos de oratória. Desde o seu nascimento, fora tolhido por graves deficiências, inclusive a gaguez. Como tinha a ambição de transmitir aos outros os seus pontos de vista, andava na praia com pedrinhas na boca, no sentido de melhorar a nitidez de sua voz. O seu esforço foi tanto que não demorou muito tempo para se tornar o maior orador de todos os tempos.

Observe o que alguns pensadores disseram sobre o tema: para Pascal, "A eloqüência é a pintura do pensamento"; para E. Ferri, "A eloqüência é o talento de transmitir com força ao espírito dos outros, o sentimento de que o orador está possuído"; para Dammien, "A eloqüência é a arte de dizer bem aquilo que é preciso, tudo quanto é preciso, e nada mais do que isso"; para Rui Barbosa, "A eloqüência é a sinceridade na ação".

Ilustremos o tema com uma comparação entre o orador e o pintor. O pintor, ao dar vazão ao seu sentimento artístico, fá-lo para si mesmo, para agradar ao seu ego, à sua concepção de arte; o orador, não. Ele tem que falar para atingir a quem ouve, isto é, à platéia. Pergunta-se: como será ouvido se não conseguir prender a atenção de quem o escuta? Este deve ser o grande exercício do orador: agradar aos olhos e aos ouvidos do público. Para tal finalidade, precisa de persuasão e de eloqüência.

A eloqüência não é falar fácil e corretamente, impressionar os sentidos alheios, mas expressar o pensamento próprio, com graça, equilíbrio, harmonia e muita perspicácia de tempo e lugar.

Exercício

JÚLIO CÉSAR

(Discurso de Brutus)

Willian Shakespeare

Brutus - Romanos, concidadãos e amigos!

Sede paciente até o fim!

Ouvi a exposição da minha causa e fazei silêncio, para que possais ouvir. Crede em minha honra e respeitai minha honra, para que possais acreditar nela. Julgai-me segundo vossa sabedoria e ficai com os sentidos despertos, para que possais julgar melhor.

Se houver alguém nesta reunião, algum amigo afetuoso de César, dir-lhe-ei que o amor que Brutus dedicava a César não era menor do que o dele. E se esse amigo, então, perguntar por que motivo Brutus se levantou contra César, eis minha resposta: não foi por amar menos César, mas por amar mais Roma.

Que teríeis preferido: que César continuasse com vida e vós todos morrêsseis como escravos, ou que ele morresse, para que todos vivêsseis como homens livres?

Por me haver amado César; prantei-o; por ter sido feliz, alegra-me; por ter sido valente, honro-o; mas por ter sido ambicioso, matei-o. Logo: lágrimas para sua amizade, alegria para a sua fortuna, honra para o seu valor e morte para sua ambição.

Haverá aqui, neste momento, alguém tão vil que deseje ser escravo?

Se houver alguém nessas condições, que fale, porque o ofendi. Haverá alguém tão grosseiro para não querer ser romano? Se houver, que fale, porque o ofendi. Haverá alguém tão desprezível, que não ame a sua pátria? Se houver, que fale, porque o ofendi. Faço uma pausa, para que me respondam.

Nesse caso, não ofendi ninguém. Não fiz a César senão faríeis a Brutus. O inquérito sobre sua morte se acha depositado no Capitólio; sua glória não foi depreciada, com referência aos seus merecimentos, não tem sido, também, exagerado os crimes pelos quais veio a sucumbir.

Aí vem o seu corpo, chorado por Marco Antônio, que, muito embora não houvesse tomado parte em sua morte, será beneficiado por ela, pois passará a ocupar um cargo na República. Quem de vós, também, não ocupará um cargo?

Despeço-me com isto: assim como matei o meu melhor amigo por amor a Roma, assim também conservarei o mesmo punhal para mim próprio, quando minha pátria necessitar que eu morra.

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